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A verdadeira razão do atraso do Elefante

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Manchete do jornal Tribuna do Norte do dia 28 de fevereiro de 2012:

“TCU diz: Arena das Dunas pode virar ‘elefante branco’”

“Pode virar”? Não vou nem perguntar se vocês também acham isso uma obviedade ululantíssima. O estádio já nasceu ciente de seu destino paquidérmico alvacento. E nós já sabíamos desse destino ainda mais do que o próprio.

Nenhuma novidade até aqui.

O que avulta em interesse nessa manchete é a constatação da predisposição do RN para as obras paquidérmicas. Este humilde e desacreditado escriba já o notara, e vocês, leitores, são testemunhas disso. Há meses venho falando sobre a vocação do nosso estado para os passos lentos e vagarosos pelo peso que carrega nas costas. Esse peso é considerável e integra uma estrutura que se arrasta desde o tempo em que “Bumba meu boi” era apenas um garrote atrevido em algum cercado interiorano.

Mas o que será que impede nosso Elefante de deslanchar pelos caminhos da prosperidade?

Não sei ao certo, mas estou inclinado a dizer que seriam as melancias. Pensei refletidamente sobre o assunto e cheguei a essa conclusão parcial. Assim, ficam as gerações vindouras desde já responsáveis por encontrar a solução para este enigma secular, e eu diria até milenar, a julgar pela situação dos comedores de camarão que habitavam essas terras antes da chegada do colonizador europeu. Ou seja, muito antes de sermos um Elefante do ponto de vista geográfico.

Considerando que a tribo litorânea dos Cariris tinha por hábito devorar os incautos que aqui desembarcavam, é de se esperar que tivessem grande fome, aparentemente a mesma fome de alguns gestores modernos por recursos públicos. Portanto, os costumes de hoje vêm de longe, não importando as fronteiras delimitadas pelo mapa; o Elefante sempre esteve enraizado em nosso espírito mais remoto.

Pois bem. Ainda não lhes dei a razão de serem as melancias a causa do andar vagaroso do Trombudo potiguar e de sua eterna vocação paquidérmica. É que como essa razão ainda é, como eu disse, parcial, necessário se faz enfeitar um pouco essa argumentação para que ela não pareça assim tão simplória, pois simplória ela já é de nascença. Coisa de menino vaidoso.

Sem mais embromação, que esse escriba não dorme no ponto, vamos a ela.

A melancia, como disse, é a causa dos nossos males. Vejamos mais uma manchete, esta colhida da lavra de Ricardo Boechat, para provar o que lhes digo.

“O governo britânico aponta a melancia do Rio Grande do Norte como causa de um surto de salmonelose em Londres…”.

Viram? Ora, ora, ora, meus queridíssimos amigos, a melancia é uma fruta que nasce até mesmo por baixo de muros de cemitério sem que ninguém precise plantar nenhuma sementinha. Basta que o defunto tenha morrido com alguns caroços no interior de seu bucho que em pouco tempo teremos um frondoso pé de melancia se arrastando pelas redondezas do campo santo. Querer que ela não tenha nenhuma “milacria” é demais.

Não requer esforço nem técnicas especiais para seu manejo, muito menos tanta água para fazê-la crescer. Aliás, a melancia tem essa peculiaridade: quase toda a água que recebe, ela é capaz de reter, fazendo com que sua poupa se constitua de 90% de água. Isso é mais ou menos o mesmo que acontece com o patrimônio daqueles que se metem com as coisas públicas, mas deixemos isso de lado por ser coisa de pouca importância. Voltemos à melancia, a malvada em questão.

Depois de uma notícia deste calibre, parece-me que seremos responsabilizados também pelo surto de gripe suína na Mongólia, pela leptospirose no Gabão, e até, retroagindo no tempo, pela Peste Negra na Europa medieval.

Culpa de quem? Da melancia, é claro! Eis a razão do nosso atraso e da nossa infâmia perante o mundo. Passamos tanto tempo carregando pesadas melancias nas costas do Jô Soares, e para quê? Para depois sermos responsabilizados por um surto de, como é mesmo o nome?, salmonelose! Sobrecarregamos os costados do paquiderme, deixando-o lento para outras carreiras, e vejam como nos pagam. Malditos ingleses! Que a Olimpíada de lá seja um fracasso, muito diferente da Copa que vamos organizar para eles, os ingleses, verem, admirarem e babarem, no ano da graça de 2014.

Mas já que ainda falta muito tempo até lá, digo que a melancia deve ser banida de nossos campos, liberando o Elefante deste peso, e relegada ao oceano como comida para os peixes, estes, sim, quando fritos são saudáveis e altamente prazerosos com macaxeira e cerveja gelada na beira da praia. Não há no mundo quem possa reclamar disso.

Portanto, nada de culpar os colonizadores ou os administradores, a sociedade ou os costumes da cidade. É a melancia, – sim, a melancia! –, a causa maior do nosso atraso! Vendamos as terras em que elas são cultivadas – inclusive os cemitérios – e gastemos o dinheiro de sua venda em outras finalidades mais rendosas, tais como festas, estádios, solenidades de posse de figurões e entrega de títulos de cidadão; talvez assim, e só assim, tenhamos uma nova chance de embarcar no expresso do “POGRESSO”.

Que Deus assim o permita…