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A hora do Mução ou do preconceito?

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Ouvindo o programa do mução, senti vontade de publicar mais uma vez o texto abaixo. Ainda que você não concorde – e tem todo o direito se achar por bem – e seja o maior fã do programa, pelo menos se (me) dê a chance do contraditório.

 

A hora do Mução ou do preconceito?

 

O que pensar de um programa de rádio que ridiculariza os pobres, faz “pouco caso” de pessoas que vivem de um salário, chamando-os em um tom jocoso de assalariados, e, para terminar o preconceito de classe, ataca – pegadinha se quisermos utilizar o eufemismo utilizado – os defeitos físicos e os costumes daqueles menos afortunados?

Sim, eu me refiro ao programa do Mução. Veiculado nacionalmente por emissoras de rádio em cadeia, o Mução desperta a risada de muita gente, inclusive – não tenho porque mentir, dado que escrever estes textos são terapêuticos para mim – a minha.

Mas vamos sair de nossos esquemas comuns. Será que é uma atração que provoca a alegria inocente? Ao tentar refletir um pouco mais sobre o assunto cheguei à conclusão, e é apenas um ponto de vista ensaístico, que não.

Mução, que é interpretado por um comediante com raízes natalenses, abre o programa importunando alguém, passando para esta pessoa um trote. Se você prestar bem atenção, se trata sempre de pobres, mas nunca de um professor universitário ou de um empresário.

Na medida em que a “diversão” se desenvolve, mais pessoas são chateadas ou incitadas a atacar outros cidadãos – sim, são cidadãos, sendo desrespeitados.

A “hora do Mução”, não deixando a tônica perder a coloração, ataca deficientes físicos, mulheres, homossexuais e pessoas com algum retardo mental. Mução, líder de uma turma com outros personagens, tem sempre uma piada pronta contra a “lacraia”, o “mudo”, o “fanho” e o “candidato”.

No final do programa vem o seu quadro mais famoso – a pegadinha do Mução. Ele saca o telefone e disca novamente para alguém. A idéia é enrolar o máximo que puder para chatear até limite o indivíduo e, quando a pessoa não agüentar mais, mencionar o apelido daquele que recebeu a brincadeira. Pronto! Verruga de Baleia, Carretel de Mel, ou mesmo Twit Estou
rado ficam furiosos e começam a xingar o radialista. Este, por sua vez, liga outras vezes com o intuito de irritar ainda mais o “escolhido”. E, depois que o troteado fala todos os impropérios possíveis e bate o telefone na cara do Mução, o programa acaba.

Mais uma vez, nunca vi uma pegadinha com um engenheiro ou com um médico. Sempre pessoas pobres. Sempre defeitos físicos. Sempre brincadeiras com os costumes daqueles que tem menos condições de se defenderem de uma situação dessas. E quando falo em condições de defesa, me refiro ao fato de que estas pessoas tem menos acesso a arguição jurídica, que é o modo predominante com que resolvemos as nossas questões hoje.

Reflitam. Se isto não for racismo e ele não estiver reproduzindo uma visão preconceituosa de mundo, em suas várias manifestações, eu não sei mais o que é..