As falas de alguns defensores do beco e da promotora do meio ambiente foram sintomáticas, pois expressaram certo tipo de moralismo que vem permeando a discussão.
De acordo com a argumentação desses entusiastas do espaço cultural, em entrevista a um jornal televisivo da cidade, o Beco da Lama traria o benefício de impedir que a região se transforme em uma “cracolândia”.
A promotora, enquanto isso, enfatizou, tentando justificar a sua recomendação para que os shows na cidade alta fossem extintos, que a afirmação não tinha verossimilhança com a realidade, já que era possível ver muitas pessoas ingerindo bebidas alcoólicas nos bares que circundam a região.
Tanto a defesa do beco, como a fundamentação da decisão da promotoria do meio ambiente, revelam um tom reativo que não parece o melhor caminho a ser seguido. Um desavisado pode até achar que se trata da cidade da criança e não de uma localidade de muita boemia.
O Beco da Lama costuma ser frequentado por adultos. Não há nem um crime no fato das pessoas tomarem cerveja, cachaça ou algo do gênero. Bebidas alcoólicas não são proibidas no país. A afirmação da promotora, neste aspecto, foi infeliz.
Os produtores culturais, por sua vez, também apresentam visão preconceituosa. Afirmar que shows evitam uma potencial vocação para “cracolândia” acaba por criminalizar a região em pauta e não há evidências que corroborem esse percurso argumentativo.
O QUE ESTÁ EM JOGO
Há um projeto de revitalização da Ribeira que não deve ser abandonado. Sem dúvida que esta é a pauta fundamental.
A questão sobre o beco da lama expressa, além disso, a necessidade de uma ampla discussão sobre a apropriação (cultural, eventos, etc) da cidade. É preciso equacionar interesses e os pontos de vista das mais variadas instâncias representativas do poder público e da sociedade civil para, aí sim, enriquecer a discussão.
Está se apresentando uma boa oportunidade para mudar o rumo sazonal irreflexivo com que o assunto costuma entrar e sair da esfera pública.
TT
@arthurdutra_ Atenção Natal, de acordo com a promotora Rossana Sudário, de hoje em diante só é permitido tomar chá nos recantos boêmios da cidade.
CARNATAL
Bem que o debate poderia também envolver o carnatal. Se a micareta for deixada para última hora, como vem acontecendo nos últimos anos, todos os intere$$es serão levados (empurrados) em consideração menos os dos cidadãos.