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Cinema: Paraíso perdido e cancelado

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A adaptação para o cinema da obra de John Milton, Paradise Lost, pelo diretor Alex Proyas (Presságio, Cidade das Sombras), foi definitivamente cancelado pela Legendary Pictures por causa do orçamento (ou seja, como eu particularmente acredito, eles não queriam liberar o dinheiro para um filme com uma proposta mais inteligente e adulta, como Proyas tem o hábito de fazer, do que a maioria das superproduções hollywoodianas. Ainda mais tendo Lúcifer, o anjo caído da mitologia cristã, como personagem baseado no poema de Milton, o que poderia ser muito arriscado em termos de retorno financeiro satisfatório de uma bilheteria habituada a bobagens como a “saga” Crepúsculo e Transformers).

Arte conceitual do filme de Proyas para Lúcifer

Cancelamento semelhante também ocorreu com a adaptação de Nas Montanhas da Loucura de H. P. Lovecraft, que seria dirigido por Guillermo Del Toro, o que mostra o quanto é  lamentável a dificuldade que bons diretores têm de concretizar projetos interessantes dentro da máquina hollywoodiana das superproduções. Por isso, quanto mais a produção exige de orçamento, mais o filme tem que ter um apelo as massas, buscando um roteiro geralmente fraco, mas conveniente para um público estúpido e apropriado aos valores da família cristã norte-americana. Às vezes parece que passou o tempo em que um projeto ousado e inteligente poderia ter um orçamento digno e condizente com as suas exigências visuais (2001 de Stanley Kubrick pode ser um exemplo desse tempo). Embora raríssimas exceções ainda possam surgir (como promete, sem trocadilhos, para este ano, Prometheus, de Ridley Scott). No seu medo de perder dinheiro, não é por acaso que Hollywood sofra de uma profunda crise de criatividade, afinal, as ideias mais ousadas e criativas são descartadas por medo de não serem bem aceitas pelo público.

E mesmo que o público não seja idiota, os produtores geralmente acreditam que seja, como foi o caso de Blade Runner de Ridley Scott que, por exigência destes, foi inserido a desnecessária narração em off para explicar a esse mesmo público o que se passava. Para piorar, ainda exigiram que fosse acrescentado um “final feliz”, algo que estava totalmente desvirtuado da concepção original do diretor. Entretanto, apesar do “torcer de nariz” dos produtores quanto à proposta original de Scott, Blade Runner, na versão do diretor, se tornou um dos mais cultuados filmes do cinema. O que poderia, talvez, acontecer com a visão de Proyas para o poema de John Milton, caso Hollywood arriscasse mais em boas e ousadas ideias do que em fórmulas cansativamente repetidas e que nem sempre são garantia de grande retorno nas bilheterias.

Depois dessa talvez Proyas resolva fazer filmes com orçamentos mais modestos, afinal, parafraseando Milton, talvez seja melhor para ele reinar no inferno (dos filmes independentes) do que ser escravo em Hollywood.

 

Ps: Ridley Scott vai voltar a Blade Runner, numa sequência deste, acredito que desta vez os produtores não irão intervir tanto quanto fizeram com o original.