O Espaço Cultura Casa da Ribeira, entidade sem fins lucrativos que vem realizando um trabalho primoroso na cidade há mais de dez anos, agora corre o risco de fechar suas portas. No final de 2011, seu Projeto Cena Aberta foi indeferido pela Comissão Estadual de Cultura, da Lei Câmara Cascudo, o que, em tese, inviabiliza o funcionamento da Casa para o ano de 2012. Gerada a polêmica, jornalistas e blogueiros foram convidados para uma coletiva realizada na noite do dia 7 de fevereiro, na própria Casa da Ribeira, juntamente com Edson Silva (diretor comercial) e Henrique Fontes (diretor artístico e educativo), para discutir a situação. A coletiva foi aberta em Live Stream.
O Projeto Cena Aberta tem como objetivo principal oferecer 72 apresentações gratuitas, dentre as quais, 64 seriam destinadas a crianças de escolas públicas, e 8 para a comunidade, com ingressos no valor de R$10,00. Com estas apresentações, durante dez meses a Casa da Ribeira alcançaria um público estimado de 11.000 pessoas. Não só isso, ele (o Projeto) permitiria a jovens artistas formação e experiência no seu campo profissional, e movimentaria um corpo significativo de outros profissionais das artes, tais como preparador corporal, produtor artístico, cenógrafo, figurinista, iluminador, compositor etc.
Como forma de apresentar e justificar a manutenção e financiamento do Projeto Cena Aberta, a Casa nos ofereceu cópia do recurso enviado à Comissão, o qual será disponibilizado em formato eletrônico, juntamente com os vídeos da coletiva, na sua página do Facebook. Nele, há a justificativa detalhada para cada problema encontrado pela Comissão Estadual de Cultura e documentos de prestação de contas mensais, contracheques de funcionários, orçamentos, entre outros.
Apesar de tudo, o parecer que indeferiu o Projeto Cena Aberta fundamenta sua posição, aparentemente, baseando-se apenas em critérios financeiros. Dentre os pontos rebatidos, há desde o questionamento da necessidade de locação de ônibus para o transporte das crianças beneficiadas (a maioria carentes), até “onde vai ser despendida” a verba destinada a cobrir os custos de cenário. No segundo caso, a Casa tem que explicar, por exemplo, que para a construção de um cenário, é preciso comprar tintas, tecidos, móveis e objetos cênicos, MDF etc. O parecer também afirma que o projeto tem como objetivo principal beneficiar apenas 5 atores (não um público de 11.000 pessoas) e compara a pauta da Casa da Ribeira com a do Teatro Alberto Maranhão, o qual não depende de pauta para sua manutenção, uma vez que é mantido pelo próprio Estado. Além disso, infere que quase 50% do valor proposto seria dividido entre os sócios, sem levar em conta que eles não podem estar inclusos nas despesas da Casa, já que são voluntários.
Os diretores da Casa também discutiram uma nova postura de transparência junto ao público e ao poder público, onde haverá a informação detalhada, através da mídia impressa e eletrônica, a respeito da gestão dos projetos da Casa e dos recursos públicos despendidos.
Esperamos que a Casa da Ribeira e o Governo do Estado encontrem uma solução para esse impasse, e que tal solução preze pela manutenção da instituição e pelo incentivo e difusão da cultura, já tão pouco estimulada pelo poder público do Rio Grande do Norte. No entanto, cabe o registro de que, independentemente da decisão da Comissão Estadual de Cultura, talvez o melhor caminho seja a Casa buscar, juntamente com o financiamento público, outras alternativas e parcerias para a sua sustentação, evitando que no futuro dependa de um único órgão de fomento.