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Manobrista de pinguço

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“Brasil, meu Brasil brasileiro, meu mulato inzoneiro, vou cantar-te nos meus versos…”

Sim, cantarei o Brasil brazucão nos meus versos tortos, seguindo a linha da famosa música de Ary Barroso.

A razão disso é que a cada dia que passa recebo novos tapas na cara ofertados por essa tigresa arisca e cambiante, de várias cores e trejeitos: a criatividade do povo brasileiro.

Sim, dizem que é a nossa melhor característica, e só por isso já merece louvores os mais melódicos e alegres. Vejamos qual seria o recente tapa na cara que ela nos deu.

Lei Seca, bafômetro, blitz, motoristas presos… Tudo isto o faz lembrar alguma coisa?

Claro que sim! O som que embalou o verão que se foi não foi o de Michel Teló, Grafith ou Adele, e sim o dos apitos dos guardas de trânsito a ordenar a parada dos veículos a fim de fazer o temido teste do bafômetro nos motoristas.

Antes tarde do que nunca!

Muitas foram as reclamações por causa do trânsito causado pelas barreiras policiais, muitas delas, porém, não tanto por causa do trânsito, e sim para encobrir a insatisfação em ter que fazer o teste, tudo, claro, para poder tomar uma garrafa de whisky e depois sair por ai guiando um carro sem ser importunado. Para esses, o cumprimento da lei e o zelo pela segurança no trânsito são apenas detalhes irrelevantes que só serão observados se coincidirem com sua rotina inquebrantável.

Por sorte a maioria das pessoas vem apoiando as medidas de intolerância com o consumo de bebidas por motoristas, de maneira que em breve esse mal costume será quebrado, e no seu lugar teremos outro melhor; que o diga o uso do cinto de segurança, execrado antigamente, mas que hoje é uma coisa tão cômoda, e até automática, que eu já soube de pessoas que fizeram movimento de puxá-lo quando sentaram no vaso sanitário.

Ponto. Agora voltemos aos infratores contumazes, esses ninhos de cobra onde a criatividade brazuquinha mais teima em nascer.

A primeira burla para os refratários à Lei Seca foi a troca de informações nas redes sociais sobre a existência de blitzes, avisando aos pinguços que em rua tal existe uma delas a exigir o sopro no “cachaçômetro”.

Agora, com a colocação de blitzes em locais por onde necessariamente o motorista bebum tem que passar (Rota do Sol, por exemplo), a criatividade, essa pantera, nos dá outra “solução” para o problema: é o manobrista de pinguço. Um primor de empreendedorismo! Vejamos.

O cara fica de mutuca na beira da pista fiscalizada vendendo seu serviço que consiste em passar com o carro do motorista alcoolizado pela blitz, mediante o pagamento de uma quantia módica; chegando na barreira, o bafômetro, que não sai do zero, permite a passagem do veículo. Só que cem metros adiante o carro pára, o motorista sóbrio entrega o volante, recebe sua paga, coisa de R$ 50,00, o papudinho assume a direção e sai para o abraço – ou para o cemitério – fazendo gestos obscenos para comemorar o “triunfo”.

Agora digam se isto é ou não o forte do Brasil? Fui gentil ao dizer que isso é uma tapa na cara; está mais para um murro de lutador de UFC! Ora, uma lei meritória vai por água abaixo para alguns que usam da astúcia do brazuqinhas brasiliensis, esse mestre em esquiva e agilidade em fugir das sanções legais.

Ah, não, mil vezes o cara que passou embriagado por uma blitz com o velocípede cor-de-rosa da filha! Muito mais divertido até para os valorosos policiais que têm que agüentar o bafo de cachaça na cara durante a madrugada, quase tão horrendo quanto aquele velho dizer tão ouvido nessas ocasiões:

– Você sabe com quem está falando?.