Numa conversa com Claudio Willer, um dos poetas contemporâneos brasileiros mais talentosos perguntei da sua atual visão da poesia brasileira. Disse ele que “Há bons poetas”. Concordo com ele. Mas são raríssimos. Antes numa palestra do poeta Ferreira Gullar ele disse que a maioria dos novos poetas ou caem num lugar comum ou numa verborragia de dicionário, como que catassem palavras difíceis para seus versos. A maioria dos nossos poetas desconhece a linha evolutiva da poesia brasileira. Acabam insistindo na pratica de um sub-lirismo repetitivo. São poucos poetas que praticam uma poesia de invenção, dentro do conceito de Pound, “existem mestres, inventores e diluidores”. Grande parte dos nossos poetas são diluidores. Em 1984, o poeta Nei Leandro de Castro me disse “você precisa conhecer a poesia de Marize de Castro”. Em 1990 recebi dela o livro “MARRONS CREPONS E MARFINS”.
Li reli várias vezes e entrei num estado de choque com os versos de Marize de Castro “fortes e docemente sacana” como bem definiu Nei Leandro, apresentando a poesia de Marize Castro.
Hoje, lendo “ESPERANDO OURO”, “LÁBIOS ESPELHOS” e “HABITAR TEU NOME” de Marize Castro me surpreendo ainda mais com sua poesia forte, densa e que ousa misturar Deus com o desejo carnal do cotidiano. A poesia de Marize Castro atinge níveis só comparados a Dylan Thomas e Marriane Moore, para citar apenas dois poetas contemporâneos essenciais. A poesia de Marize de Castro é uma leitura cruel, irônica e lapidada a bisturi como definiu João Cabral de Melo Neto num poema sobre Marianne Moore. Os três últimos livros da poeta potiguar estão na minha cabeceira e já fazem parte do meu ritual de insônia. Sou obsessivo nas minhas paixões culturais. Ultimamente minhas madrugadas tem me levado a ler Marize de Castro e rever filmes de Godard. Certamente não existe nada de comum entre Godard e Marize de Castro. O gênio maior do cinema lida com imagens e Marize Castro com a palavra.
Mas outro dia num filme de Godard ele repete “os espaços reinam”. Isso me lembrou muito a poesia de Marize Castro. Ela reina, santa e devassa no espaço das palavras..