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O tempo, suas convocações e brechas

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“Um pouco de possível, senão sufocamos!”

Muito já se escreveu sobre ele, mas pouco se concluiu, muito menos se conseguiu uma vivência ótima dele. A despeito de todas as controvérsias que já inventaram a seu respeito, uma coisa é certa: chega um momento da vida em que nos damos conta que o tempo é como o mar. Não importa o quanto munidos somos – de bússolas, equipamentos e tentativas de controle e auto-segurança -, quando eles querem nos pregar uma peça, eles pregam. Parece uma maneira de se afirmarem enquanto senhores. Parece uma imposição para nos colocarmos em nosso lugar de subjugados. E de fato, eles o fazem.

A questão é: será mesmo que somos tão dominados assim pelo tempo? Não é uma pergunta retórica, realmente não tenho resposta. É bem verdade que temos a liberdade (e responsabilidade) de utilizá-lo de acordo com nossos objetivos, nossas necessidades, obrigações e desejos. O problema começa quando o desejo vai lá pro último lugarzinho na escala de prioridades, não pelo afã de suprir necessidades ou cobiçar algo além, mas por nos ser convocados diariamente a suprir as necessidades (nossas, de outra pessoa, da sociedade…) primeiro.  Mas e o desejo, onde fica nessa história?

Ele escapa, ele sempre escapa. Neste caso o desejo não é sinônimo de uma falta, mas de algo que produz, ele é capaz de produzir brechas. Ele é o único antídoto para o caráter dominador do tempo. Quando este insiste em nos convocar, em nos tomar completamente – o desejo vai lá e lhe passa uma rasteira. É esse desejo que este site surgiu, o que criar brechas no meio do tempo que não temos, mas que conquistamos. O de ficar acordado até tarde para poder criar um texto seja informando, opinando ou entretendo os leitores. De pensar para que serve escrever e o que nos motiva a tal tarefa.

Se seguíssemos as convenções do tempo, se não abríssemos com nossos desejos nossas brechas, este site jamais teria sido possível. Se desistíssemos de escrever em nossa coluna pela imposição tempo, jamais iríamos escrever uma linha sequer.  Então, é pelo desejo de construir junto – seja um riso, uma revolta ou uma maneira de ver de forma lúcida os fatos – que essas linhas são escritas, que outras linhas serão e que, de alguma forma, algo feito de desejo consiga transcender o tempo a que estamos impostos.

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