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Operação Impacto: Quem espera nunca alcança

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Por Raoni Fernandes

Muita gente recebeu com surpresa a notícia da condenação de 16 dos 21 acusados de envolvimento na Operação Impacto. É que, cinco anos após o escândalo que trouxe à luz o que acontecia nos porões da Câmara Municipal de Natal, corruptos e corruptores ainda apostavam no esquecimento, no desinteresse e na desmobilização social para livrarem a própria cara. Para desespero deles, não ficamos esperando calados pela decisão da Justiça. Enquanto tentavam se esconder, fomos às ruas para pedir sua responsabilização.

A Operação Impacto, deflagrada em 2007 pelo Ministério Público Estadual, revelou o esquema de pagamento de propina de empresários da construção civil a vereadores natalenses para derrubar os vetos do então prefeito Carlos Eduardo ao Plano Diretor de Natal. Na última segunda-feira (24), a sentença do juiz da 4ª Vara Criminal, Raimundo Carlyle de Oliveira, deu o esperado desfecho ao caso.

Muita coisa aconteceu até que fosse possível chegarmos a esse momento. Há exatos cinco anos, a gestão suprapartidária do grupo “Sonhos Que Podemos Ter”, recém-eleita para coordenar o DCE-UFRN, reuniu estudantes, funcionários e professores, sob coordenação da Professora Dulce (Arquitetura e Urbanismo), para debater o Plano Diretor de Natal. Graças a essa pequena organização, quando houve as primeiras denúncias sobre o esquema, conseguimos mobilizar a sociedade civil com o objetivo de pressionar o Ministério Público a investigar o caso.

Aquele pequeno grupo de estudantes que acabara de assumir a responsabilidade de resgatar a confiança da comunidade acadêmica conseguiu mobilizar não só a UFRN, mas outras instituições de ensino superior e estudantes secundaristas em torno do tema do Plano Diretor. Dessa iniciativa, após inúmeras mobilizações, conseguimos reunir quase 50 entidades representativas (CUT, DCE’s, grêmios estudantis, movimento feminista, centros comunitários e sindicatos, entre outras)e criamos o Fórum Natal Cidade Sustentável.

O Fórum se reunia semanalmente na sede do Coletivo Leila Diniz e sob, a coordenação do DCE-UFRN, promoveu várias ocupações da Câmara Municipal. Impulsionados pela rebeldia, pela indignação e pelo inconformismo, conseguimos participar das votações e assembléias e pressionamos os vereadores com palavras de ordem, cartazes, faixas e protestos culturais. Como esquecer as palhaçadas do personagem Bicolin, criado pelo ator e coordenador de Cultura do DCE-UFRN, Rodrigo Bico, dando o ar divertido que precisávamos para não perdermos a força e a vontade de lutar pelos nossos ideais?

Não há como esquecer também o triste dia em que o então presidente da Câmara Municipal, Dickson Nasser, fazendo uso dos seus “podres poderes”, como diz a canção de Caetano Veloso, nos expulsou do Plenário daquela Casa, alegando que não passávamos de “moleques”. É, vereador, o tempo terminou mostrando quem são os verdadeiros moleques dessa farsa que o senhor e os demais edis protagonizaram…

O senhor não sabe, vereador, como é gratificante ver que cada grito, cada protesto e cada palavra de ordem valeram a pena ao ver a imagem do senhor e dos seus cúmplices na TV e nos jornais com a legenda de “CONDENADO”. Para citar mais uma vez a mesma canção de Caetano Veloso, “Queria querer gritar setecentas mil vezes…”.

Essa é uma vitória épica, embora ainda parcial, construída com a participação de muitos pequenos heróis e determinada pela decisão também heróica de um juiz, que representa, sem exageros, um marco no combate à corrupção em nossa cidade. Talvez se o mundo fosse um pouco diferente, não precisássemos tratá-lo como herói, mas diante de uma realidade em que predomina impunidade, é preciso dar a César o que é de César.

Esse desabafo é uma maneira de relembrar a luta daquela juventude de 2007 nesse momento em que todos comemoram o desfecho da Operação Impacto. Por isso, faço um apelo aos jornalistas, formadores de opinião e qualquer um que venha a escrever sobre esse episódio para que não tirem de nós o sentimento dessa vitória da qual fomos protagonistas. Já se foram cinco anos, mas lembro de muitos rostos determinados, dos amigos conquistados na luta, dos dias e madrugadas que passamos juntos batalhando pelo ideal comum.

Enquanto alguns esperavam a banda passar, fomos às ruas e construímos a história. Tenho orgulho de ter feito parte dessa juventude que não foi a reboque de ninguém, mas se mobilizou, liderou e decidiu os rumos dos fatos. Não vamos continuar esperando, porque ainda há muito a acontecer até que, efetivamente, vejamos todos os culpados pagar pelos seus crimes.

*Raoni Fernandes foi Coordenador Geral do DCE-UFRN, Gestão “Sonhos Que Podemos Ter”, no período 2007-2008.

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