Baseada numa bem sucedida história em quadrinhos e dirigida e produzida inicialmente por Frank Darabont (À Espera de um Milagre, O Nevoeiro…) The Walking Dead, prestes a recomeçar sua segunda temporada em 12 de fevereiro deste ano, se consolida como uma das mais fortes séries de TV da atualidade, responsável por trazer as velhas histórias de zumbis uma visão mais “realista”, focada muito mais no drama do grupo de sobreviventes do que nos morto-vivos (no quadrinho há episódios que nem mesmo aparece um morto-vivo sequer).
Após uma epidemia que transformou a maioria dos seres humanos em mortos-vivos, um pequeno grupo de sobreviventes tenta viver num mundo infestado por esses seres, enquanto tentam conviver em paz com os outros e consigo, o que não é nada fácil. Sustentado por um elenco competente, a série nada contra a corrente de muitos filmes do gênero (mesmo sem perder de vista algumas das suas habituais características) ao dar uma visão mais “humanista” aos mortos-vivos, pois tenta lembrar que, antes de serem esses monstros comedores de carne humana, eles eram pessoas iguais a qualquer um de nós. Há na primeira temporada, por exemplo, a relutância de um homem em matar o “zumbi” da esposa. Para quem já assistiu algum filme do gênero, sabe que seria considerado até mesmo como um ato de caridade tal atitude, e o personagem concorda com isto. Mas, diferente da maioria dos filmes, a série faz questão de mostrar que tal ação não é algo fácil, e tenta fugir da banalização da matança de zumbis comum ao gênero, numa tentativa de não usar o tema como simples fetiche sádico do velho culto norte-americano às armas de fogo, apelando assim para uma violência gratuita, violência esta supostamente “permitida” por se tratar do assassinato de aterradoras criaturas ficcionais, uma verdadeira praga que deve ser exterminada (e tais questionamentos, se são ainda seres humanos doentes ou uma praga que ameaça a sobrevivência dos verdadeiros humanos, são lavados ao clímax na segunda temporada). Em outro momento, ainda na primeira temporada, há até mesmo um breve monólogo de um personagem (o policial Rick) diante de um morto-vivo, como se ele quisesse que a criatura soubesse que ele lamenta muito pela trágica situação na qual ela se encontra antes de lhe dar um tiro de misericórdia. Com isso e com outros detalhes que surgem na segunda temporada, percebemos que The Walking Dead pode se mostrar como uma interessante metáfora sobre questões morais, éticas, sobre a eutanásia ou sobre o aborto (este último é tratado claramente na primeira parte da segunda temporada).
O que na verdade choca nessa série de terror não é somente o realismo das criaturas, as cenas gore etc. mas o drama e a tragédia do grupo de sobreviventes, levados ao extremo das suas forças e da sua própria ética e lucidez (até mesmo a ideia de suicídio se mostra como uma possível e bem-vinda opção por algumas das mentes mais lúcidas da série). O final do sétimo episódio da segunda temporada fez com que o drama, ou melhor, a tragédia pessoal daqueles personagens superasse em muito o horror de qualquer cena grotesca desde a sua estréia, fazendo com que a relação entre vivos e mortos-vivos chegasse ao clímax de um conflito emocional nunca antes visto nos filmes do gênero.
The Walking Dead é exibido aqui no Brasil no canal fechado da Fox, mas sua versão neste canal chega a ser ridícula, pois, além de exibir uma versão dublada, ainda cortou algumas cenas no episódio de estréia, o que é, no mínimo, uma total falta de respeito para seus criadores e os fãs do quadrinho e da série..