Por Paulo Linhares, Professor da UERN
No que se refere à soberania, nada é tão simbólico, nos dias que correm, quanto à moeda nacional. Com efeito, os velhos símbolos nacionais – bandeira, brasão e hino – perderam “representatividade” em face da moeda adotada pelo Estado-nação. Parece ser decorrente de tal circunstância o pânico que frequenta os centros nevrálgicos da antes poderosa União Europeia, sobretudo ante a possibilidade da derrocada do Euro (€), a moeda que se tornou símbolo maior da mais bem sucedida experiência de bloco econômico e político da História, como a superação, sobretudo, da poderosa ideia de soberania nacional, que nada mais é que a pedra angular da edificação dos Estados contemporâneos, tudo sob os auspícios do iluminismo. Hoje, A UE (União Europeia) é um bloco econômico, político e social de 27 países europeus que participam de um projeto de integração política e econômica.
Parecia evidente que essa mistura de países ricos com países pobres tentada na Europa, para formar uma grande comunidade econômica e política, tinha poucas chances de dar certo, a começar pelas gritantes desigualdades sociais e econômicas, além de uma enorme diversidade étnica e cultural que, decerto, influenciou tantos conflitos sangrentos no solo europeu, em passado ainda bem recente. Fato é que o redesenho do mapa europeu do pós-Segunda Guerra mundial, criando unidades estatais em desacordo com a História e a cultura de cada povo, foi o grande obstáculo a transpor não apenas quando foi concebida a União Europeia, mas, sobretudo, no momento em que os países-membros foram instados a adotar a moeda única do bloco. A Inglaterra, um dos países símbolos da UE, nem precisou consultar sua população para manter sua velha e bem valorizada Libra esterlina (£), no que foi seguida pela Suécia, que igualmente não abriu mão de sua Coroa.
A UE caminhava muito bem enquanto a maioria de seus membros eram países ricos. Com a entrada no bloco dos países do Leste europeu a situação econômica agravou-se porque o que efetivamente aumentou foi o número de pobres. O país mais poderoso da EU, a Alemanha, sofreu ela própria uma grande impacto quando resolveu unificar as suas duas bandas: a Alemanha oriental, muito pobre a atrasada, passou a ser um enorme peso a ser carregado, que paulatinamente vem diminuindo à medida que é absorvida pela Ocidental. Inicialmente, custaram muito à saúde financeira do bloco, igualmente, os maciços investimentos em Portugal, Espanha, Turquia e Itália. Depois vieram os países do Leste europeu, na condição de salvados da malograda experiência socialista, que necessitaram igualmente pesados investimentos econômicos para se adaptarem à economia de mercado.
Em suma, foi pobreza demais para dividir entre os membros da UE, resultado no colapso econômico da Grécia, seguido pelo colapso dos países ibéricos, pela Turquia e até pela Itália. Claro, a Alemanha e a França vêm mantendo sob controle a crise, com a imposição de receitas econômicas bem amarga, como a que foi submetida a Grécia recentemente, com reflexos para Portugal, Espanha e Itália. Não fosse esses dois países, a crise já teria incinerado literalmente grande parte dos países da zona do Euro, com consequências difíceis de prever. No mínimo, seria até previsível uma desagregação do bloco econômico e político, com retrocesso das principais experiências levada a efeito, principalmente a adoção de uma moeda unificada, o Euro, cuja expressão se torna cada vem mais pálida. Enfim, o sonho dos “Estados Unidos da Europa”, embalado por tantos, inclusive por Napoleão Bonaparte, tende a ficar cada vez mais distante. E o belo mundo da Europa unificada irá refluir para as fronteiras redesenhadas e vigiadas e a cultura europeia volta a sobreviver em ilhas cercadas de atraso e ignorância. Lastimável retrocesso..