Carlos Henrique Araújo
Mestre em Sociologia, consultor em Educação, ex-Diretor de Avaliação da Educação Básica Inep/MEC. chfach@gmail.com
Não haverá transformação da educação brasileira sem as soluções para os problemas que afligem os profissionais de ensino do País. Alguns entraves culturais precisam ser enfrentados: desresponsabilização do trabalho escolar, excessivo corporativismo, greves freqüentes, carreira não atrativa em termos salariais e de progressão funcional, desvalorização da autoridade do professor e falta de formação.
Não se trata de considerar o professor um “coitadinho” ou qualquer coisa que o valha, como ocorre no Brasil. Em nome de uma suposta pobreza econômica dos professores, as ações são sempre tomadas em nome da categoria e nunca para efetivamente melhorar o trabalho dos mais de 2,5 milhões de docentes do ensino básico.
Temos, recentemente, a instituição de um piso salarial nacional dos professores. É uma política exemplo de equívoco e de falta de prioridade. A carreira é pensada somente pela ótica do salário e nunca da qualidade e da valorização do mérito. Certamente, não produzirá resultados efetivos a mera implementação de um piso salarial. Aliás, digamos que um governante resolvesse aumentar os salários dos professores em duas, três ou quatros vezes, provavelmente nada aconteceria com a qualidade da educação. Nenhum impacto seria registrado.
Nos últimos anos, os salários foram em muito aumentados e a distribuição de diplomas tem sido farta para o professorado nacional. Em paralelo, o sistema nacional de avaliação da educação tem atestado fracassos e falta de aprendizado. Foram acrescidos os rendimentos e os diplomas, porém, o ensino nacional continua de baixa qualidade.
Estudos internacionais têm demonstrado que não existe uma relação direta entre qualidade da educação e salário dos docentes. Este é um fator importante, mas, além do nível salarial, contam a consistência da formação, as condições de trabalho, a estruturação da carreira com premiação para o progresso em função de critérios objetivos de avaliação, a valorização profissional e a auto-imagem dos profissionais. Todos estes são fatores chaves para se ter professores motivados e competentes.
O que se recomenda é que o norte da carreira dos professores tenha como objetivos a diminuição da repetência e a elevar as médias de desempenho dos alunos nos exames padronizados externos. A valorização e os ganhos salariais dos professores devem se dar em função da qualidade de seu trabalho.
Em sentido geral, deve-se fundar uma verdadeira carreira dos profissionais de ensino. O esforço deveria ser concentrado para que os docentes não sejam vistos como coitados, e sim como peças fundamentais do progresso das nações, resgatando o respeito dos alunos e da sociedade.
A verdadeira docência exige pessoas talentosas, vocacionadas e preparadas adequadamente para auxiliar na aprendizagem dos indivíduos. Professores que apresentam de forma organizada o conteúdo, fazem transições claras entre os tópicos de ensino, utilizam linguagem clara e simples, apresentam sempre exemplos variados e significativos, repetem os pontos importantes, demonstram humor e entusiasmo, dão conhecimento a todos dos objetivos a serem alcançados e avaliam o conteúdo ministrado durante o aprendizado.
A perpetuação da visão de que o professor é um coitadinho é a principal metáfora de nossa falta de qualidade educacional. Uma profissão nobre, edificante e vibrante foi reduzida, desvalorizada e cooptada pelo sindicalismo grevista. É uma lástima que isto tenha acontecido.