Publicado originalmente em 28/02/2011
Afirmar que a ingestão de álcool mata milhares de pessoas no trânsito, que é o agente causador de assassinatos e proporciona inúmeras doenças fatais significa fechar os olhos para uma questão que, ao meu ver, é bem mais profunda – as drogas, não apenas o álcool, acompanham os homens desde o “início dos tempos” e elas também apresentam, em inúmeros casos, efeitos positivos.
As bebidas alcoólicas, por exemplo, quando bem dosadas em seu uso, tornam a vida mais leve e agradável. Podem suavizar a força neurótica das leis sociais, melhorando a saúde mental de uma sociedade. São até indicadas para prevenir determinadas doenças.
Mas por que isto sempre é secundarizado?! Porque, para além das estatísticas negativas, não pensar os efeitos positivos, não tratar realisticamente a coisa?
Michel Foucault, filósofo francês, responderia que, dado o nosso contexto sócio-histórico, em que os indivíduos são socializados para se tornarem economicamente ativos e politicamente dóceis, a discussão sobre o uso das drogas é sempre estigmatizada. Somos formados para não enxergar o óbvio – por mais que se criminalize, as sociedades criarão suas linhas de fuga através das drogas. É menos ingênuo acreditar em papai Noel do que os seres humanos, em algum dia, irão abandonar o uso das drogas.
Porém, como tendemos, pelo conteúdo pré-reflexivo, fortemente cristianizado, a fechar os olhos para o que está escancarado nos nossos rostos, tentamos explicar, por exemplo, o uso do álcool como uma questão de lascividade moral.
E por não sermos preparados para ter uma boa relação com às drogas, acabamos, ao mesmo tempo, fazendo, em muitos momentos, o pior uso possível delas. Além da própria sociedade não se organizar para produzir drogas adequadas para um consumo relativamente seguro.
É por não existir uma preocupação social, para além de qualquer falso moralismo, em educar as novas gerações para o consumo do cigarro, do álcool, maconha, etc, que uma pessoa pega um carro alcoolizado e cria situações de morte para si próprio e para os demais.
É por não nos preocuparmos, enquanto sociedade, em produzir drogas relativamente seguras, conforme um dia sonhou Foucault, que as pessoas fazem uso das piores milacrias para suportarem a realidade – crack, cocaína, ácidos, lóló, lança perfume, gás de geladeira, rolo de máquina fotográfica, etc.
Se a humanidade conseguisse dar esse salto civilizatório, que é o de ensinar a se relacionar responsavelmente com às drogas e produzir substâncias menos nocivas (com acompanhamento do Estado), com certeza, o cenário seria completamente diverso.
UM BOM ARGUMENTO LIBERAL
A liberação das drogas, como disse o economista Milton Friedman, em Capitalismo e Liberdade, desincentivaria o crime organizado em torno da venda do produto.
MAIS ESTADO, MENOS ESTADO
Ao invés de mais Estado, pura e simplesmente. Teríamos mais Estado para controle de qualidade e saúde pública (absurdo tratar um dependente como criminoso!). Mas muito menos guerra contra a venda, circulação e a violência que o tráfico gera.
ATENÇÃO!
Antes que os moralistas me ataquem, digo que não defendo o uso de drogas como necessariamente bom. Defendo uma abordagem mais racional e uma educação voltada para o uso consciente, caso alguém venha fazer uso de álcool, cigarro, maconha, etc.