O Elefante nunca me decepciona. Ainda mais no campo da politicagem miúda que aqui se pratica e que não canso de exaltar.
A nova arenga paroquial envolve o vice-governador Robinson “Crusoé” Faria e o senador José “Já Já” Agripino. Amigos até ontem, parece-me muito interessante e sintomática da ventura que nos abate desde tempos imemoriais.
O motivo da querela é que alguns militantes saíram do curral de um e foram para o novo curral do outro, dentre eles alguns defuntos, segundo dizem as más línguas e o Tribunal Regional Eleitoral.
O negócio está no seguinte pé: Já Já fustiga o PSD de Robinson, pespegando-lhe a pecha de ser composto de pessoas “sem história”, enquanto Robinson, por sua vez, ataca Já Já dizendo que o DEM está mais morto do que os filiados que integram os quadros do seu PSD.
Bom, menos mal que ambos falam verdades, senão totais, pelo menos parciais.
O que se sabe é que há muito pouco tempo tais verdades andavam escondidas, soterradas pelas toneladas de palavrórios elogiosos que sempre costumavam proferir em favor do outro, num romance que parecia ser eterno em razão da grande cumplicidade que sempre os uniu.
Mas eu, do alto do meu pedestal rasteiro, animo-me a ver que a discussão política no Elefante continua no rumo dos altiplanos da decência e da observância radical do interesse público, sempre colocado em primeiro plano pelos artífices que se esgoelam nos jornais para dizer que eles, e não os outros que lhe opõem neste momento, estão cada vez mais empenhados em fazer deste Elefante um paquiderme vistoso e próspero.
Ambos, elegantíssimos e esbeltos, botam as verdades antes escondidas para desfilar na rua e na mídia, num espetáculo colorido de declarações bombásticas que fazem tremer de êxtase os donos de cargos comissionados e verbas publicitárias que estão enfileirados de um lado e de outro, alimentando a discussão sempre num altíssimo nível.
Maravilhoso em todos os aspectos!
O barulho ouriça todos os lados, fazendo crescer os olhos da oposição que almeja contar com Crusoé em suas fileiras, mas este, pouco simpático com quem está do lado de fora do governo, espera ansioso o dia de voltar ao trono oficial pelas mãos dos mesmos que o atacam hoje, ungido pelas urnas e enfeitado pela celebridade que acompanha seu numeroso séquito.
E o Elefante? Onde fica nessa estória? No lugar de sempre: deitado em berço esplêndido ao som do mar de Areia Preta e à luz do Carnatal.
Agora durma com uma zuada dessas.