Brian é um anti-herói do grupo Monty Python. No Filme “A vida de Brian”, o grupo satiriza um homem que teria vivido em templos bíblicos e que fora confundido com um “Messias”. Passou a ser seguidos por todos, uma legião de adoradores que o deixava irritado. Tentava ao máximo pedir para que seus seguidores parassem de se comportarem como ovelhas e berrava: “Todos vocês são indivíduos!” ao passo que todos respondiam em uma só voz: “Nós somos indivíduos!”. Berrava novamente: “Vocês têm de ser diferentes!” e mais uma vez todos em uma só voz respondiam: “Sim, todos nós somos diferentes!”.
A sátira aqui é muito clara. Por mais que algumas pessoas (ou grupos) tentem alertar para a necessidade de uma mudança de posicionamento ou direção, muitos daqueles que “convertem-se” na nova onda, apenas guiam-se pela emoção e carisma do “Messias”. A razão, motivo que originou a revolta, é deixada de lado.
Caso equivalente, observamos no filme “O Clube da luta”. Mesmo Tyler Durden tentando alertar todos para o perigo da propaganda e da idolatria, acaba ele mesmo transformando-se em um ícone de adoração e veneração.
Um caso parecido, temos visto no debate sobre a Belo Monte. Por mais que alguns grupos (sejam eles favoráveis ou contra a construção) tentem alertar à população para os perigos ou potencialidades da polêmica sobre a construção da hidroelétrica, o debate junto à população continua rasteiro e migrando sempre para um “emocionalismo sem medidas”. De um lado alguns tentam impor o terror, com cenários apocalíptico, no qual faltará energia, a economia parará, a inflação retornará e outros dramas a mais. Do outro lado, cenários também apocalípticos com fim da biodiversidade, índios afogados etc. Pautam-se sob um mesmo aspecto do debate: “ele não deve ir para o campo da razão, deve permanecer na emoção”. Sejam propagandas governamentais, sejam as críticas. Muitas delas levam o debate para o campo da idolatria, perdendo-se de vista uma questão central: construindo ou não essa danada dessa hidroelétrica, impactos ocorrerão. A questão trata-se de medir racionalmente as potencialidades e limitações de cada proposta e optar por aquela que possa gerar os maiores ganhos com o menor impacto para as gerações futuras.
É de se deixar claro que sou favorável aos argumentos dos movimentos sociais e especialistas na área de energia como Célio Bermann. A construção desta hidrelétrica possui, sem dúvida alguma, várias implicações políticas e econômicas (não apenas ambientais) como pode-se observar no riquíssimo artigo da Eliane Brum (clique aqui para ler)
Porém, o debate, como tem sido travado, busca arrematar ovelhas, guiar as pessoas pela fé e paixão e não incitar a reflexão da população. Continuar do jeito que está, já já Regina Duarte aparece pra dizer que “tem medo” da não construção da Belo-Monte. Enfim, é isso.