“Simpathy for the Devil” é um filme de Jean Luc Godard que tem como espinha dorsal a emblemática canção dos Rolling Stones. No filme, a partir de um ensaio dos Stones, Godard sem nenhuma seqüência linear (o que é uma marca da sua estética cinematográfica) vai costurando ideias e pensamentos de um livro imaginário citado durante todo o filme. O ensaio dos Rolling Stones é um “mantra” repetitivo de afinações e acertos que se torna entediante. Godard usa o ensaio dos Stones durante todo o filme conseguindo com que o espectador perceba que algo vai se completar. No caso, a canção dos Stones, no final do filme, quando “Simpathy for the Devil” é tocada integralmente.
As citações deste livro-filme misturam Mao, maconha, guerrilha, sexo, quadrinhos, cinema num verdadeiro “signo em rotação”. É como se o livro fosse lido aleatoriamente. Enquanto a câmara capta cenários e situações do olhar de Godard, numa colagem cheia de surpresas.
Ao som dos Stones, por exemplo, acontece uma entrevista com uma atriz num verdejante bosque. A equipe de filmagem passeia junto com ela e faz perguntas sobre temas tão variados quanto o papel dos intelectuais na sociedade e o uso de drogas. A atriz apenas responde “sim ou não”. Corte. Num cemitério de automóveis um negro fala da sua preferência erótica pelas mulheres brancas, que de repente chegam vestindo túnicas brancas. Estas mulheres são fuziladas por outros negros armados de fuzis. Corte. Um jovem picha slogans revolucionários em carros estacionados nas ruas. Cena “final”: Numa praia, o filme está sendo feito e Godard continua seu discurso sobre o próprio filme.
Como na maioria dos filmes de Godard nada se conclui. Ele genialmente faz do cinema um lance de dados, uma “obra aberta”.
“Simpathy for the Devil” só confirma que Godard continua fazendo um cinema de invenção, destruindo elementos básicos do cinema convencional. Recentemente revi muitas décadas depois, “Acossado” Fiquei surpreso como a linguagem do filme de Godard continua a mais radical vanguarda cinematográfica.