Cresci ouvindo que moro em um país desonesto. Que o atraso e a pobreza da minha nação eram causados pela falta de espírito do povo brasileiro. Aos poucos pude perceber que o atraso da nossa nação em nada (ou muito pouco) deve-se à suposta falta de honestidade do nosso povo. Sempre suspeitei do mito do subdesenvolvimento causado pela corrupção. Não estou dizendo aqui que o típico “jeitinho brasileiro” não existe, mas que este não é tão diferente do “jeitinho norte-americano” ou do “jeitinho suíço”. Na Finlândia, por exemplo, existe um dos maiores índices de ateus do mundo. A razão disso? Lá o dízimo é cobrado como “imposto” pelo Estado. A população declara-se ateia para não pagar imposto. É o “jeitinho filandês”.
Não entrarei em teorias já consolidadas que explicam o atraso nacional como consequência da colonização de exploração. Ou mesmo tantas outras políticas internacionais que possuem reflexos diretos sobre nosso povo. Existe um sociólogo potiguar chamado “Jessé Souza” que afirma que nosso subdesenvolvimento não é fruto de corrupções, mas de outros fatores que são “invisibilizados” pela ideologia do Mercado, como este sendo algo naturalmente bom. A culpa estaria sempre no Estado e no povo, nunca no Mercado (percebem, o problema do país é sempre “corrupção e impostos”, é sempre o povo e o Estado, nunca o Mercado). Para Jessé as “cruzadas contra a corrupção” apenas camuflam os fatores que realmente influenciam no subdesenvolvimento nacional. A corrupção é somente a ponta do iceberg. O Brasil é o país que possui uma das maiores concentrações de renda do mundo, ainda assim não se fala em reforma tributária etc. que legitima o Mercado a continuar superexplorarando o trabalhador e gerar desigualdades gritantes.
Para exemplificar a teoria do sociólogo potiguar podemos citar o caso da Suíça, país internacionalmente famoso pelo seu esplêndido IDH e pela honestidade de seu povo, imagem amplamente difundida pela mídia que não corresponde com a realidade.
Existe um livro relativamente desconhecido chamado “A suíça lava mais branco”. O título é bem curioso, o conteúdo então… faz com que qualquer um sinta orgulho de ser brasileiro ao perceber que nossa nação pode até ser corrupta, mas perdemos feio para muitos países “desenvolvidos” em termos de desonestidade. Até na desonestidade são melhores do que a gente. O exemplo da desonestidade das instituições dos EUA já foi manchete e causou danos imensos em todo o mundo, fato que desencadeou a última grande crise financeira do capitalismo. Parecemos não dar a devida atenção ao volume de corrupção necessária para gerar uma crise financeira mundial. É muita corrupção. Mas eles possuem os olhos azuis, são loiros, altos, frios e racionais, tudo isso deve ter sido apenas um “acidente” e não uma rotina. Será?
Por que não pegar o exemplo da Suíça? País tido pelos rankings mundiais como um dos mais honestos e melhor de se viver, certo? Bem, a parte do bom de viver pode até ser verdade, mas quanto à honestidade… é bastante questionável. Ou será mesmo que todo dinheiro da Suíça vem da venda de queijos, chocolates e relógios?
É válido, antes de mais nada, apresentar o autor do livro: Jean Ziegler. “Durante duas décadas, como deputado estadual e federal por Genebra, manteve atuação marcante na política suíça, sem deixar seu posto de professor de sociologia em Genebra e na Sorbonne, em Paris. Foi seu livro A Suíça Lava Mais Branco, que lhe trouxe os maiores problemas e provocou o fim de sua carreira política. Seus colegas do Parlamento, ao contrário do hábito, votaram a retirada de suas imunidades parlamentares, para forçá-lo a responder os processos movidos pelos banqueiros […] conseguiu um novo sucesso com o livro “A Suíça, o Ouro e os Mortos”, no qual contou o roubo das economias dos judeus mortos no Holocausto pelos bancos suíços e onde expôs a teoria de que, sem a Suíça para lavar o ouro roubado pelos nazistas, a Segunda Guerra teria terminado em 1942. Na opinião do sociólogo e ex-deputado pelo Partido Socialista, entre os cantões suíços, o de Genebra, justamente onde Maluf depositou seu dinheiro, é o que mais se empenha em preservar sua praça financeira da infiltração do crime organizado. A Suíça lava mais branco é uma denúncia de como os bancos suíços, protegidos por uma legislação relativamente liberal com relação a depósitos e movimentação bancários estavam “lavando” dinheiro proveniente do crime organizado, corrupção política e tráfico clandestino de armas”.
A corrupção deve ser combatida, mas uma coisa é clara: Ela não é a principal causa do subdesenvolvimento das nações. Nações ricas não são nações de pessoas honestas, e não é a honestidade o motor de seu desenvolvimento. Os suíços sabem das falcatruas de seu país, porém, pergunte a um suíço se sua nação é corrupta ou honesta. Ele responderá que é honesta (este é um dos critérios quando se realiza uma pesquisa sobre a honestidade dos países, um simples questionário onde mede-se a impressão do povo sobre as práticas do governo e do próprio povo). Os chamados “rankings” de corrupção baseiam-se em medidas muito estranhas para dizer quais nações são mais honestas e mais corruptas. O brasileiro com seu típico complexo de vira-latas só poderia afirmar viver em uma nação corrupta, afinal, a imagem que temos de nós mesmos é sempre a pior possível. Pelo visto a imagem impressa pelos suíços de sua própria nação é bem diferente do que pode-se constatar na prática. Não apenas isto. Muitas das práticas que seriam consideradas criminosas no Brasil, na Suíça são práticas comuns e aceitas pela legislação (não sendo, portanto, crime ou corrupção).
EUA, Alemanha entre outras países já fizeram muitas grandes empresas decretarem falência e fecharem as portas tendo a corrupção como figura central no processo. O documentário “The corporation” retrata bem a corrupção presente em várias grandes empresas e Estados de todo o mundo.
Ao ler o livro “A Suíça lava mais branco” passamos a questionar a desonestidade do brasileiro e percebemos que não é uma coisa “tipicamente nossa”, não podendo explicar nosso atraso a partir dela.