Um sociólogo chamado Max Weber dizia que uma das características do Estado moderno é o monopólio da violência legítima. Em outras palavras: com o advento da modernidade não mais será permitido ao cidadão fazer justiça com as próprias mãos, caberia ao Estado julgar e punir todo tipo de crime. Isso não significa dizer que o cidadão não possa proteger-se. Para tal existem dezenas de artifícios que vão desde cães de guarda a cercas elétricas. O que definitivamente surpreende é a defesa árdua para o porte de armas de fogo no Brasil. O massacre do Rio reacendeu o debate e tenho visto alguns defendendo o porte de armas como a solução para resolver tais tipos de incidentes. Acredito ser um pensamento enviesado, afinal, mesmo que existisse o porte de armas o massacre poderia ter ocorrido. Crianças de 12 ou 15 anos não podem portar armas de fogo dentro de escolas em lugar nenhum do mundo, tal como professores, coordenadores etc. Assim sendo, não há de se associar o ocorrido no Rio e o porte de armas.
É normal que alguns afirmem: “A Suíça tem muito mais armas que o Brasil e a criminalidade é bem menor”. É de se questionar este tipo de afirmação: o baixo índice de criminalidade da Suíça deve-se realmente ao fator armas de fogo? Devemos lembrar também que a Suíça tem índices de desigualdade baixíssimos, bom sistema de saúde, educação de ponta entre tantos outros fatores que colaboram muito mais para a erradicação da criminalidade do que o simples porte de uma arma de fogo.
Ao pensar em armas de fogo é de se considerar também o trânsito. Não raro brasileiros matam uns aos outros com armas de fogo por brigas de trânsito. Já teve caso de triplo assassinato pelo simples fato de alguém ter “roubado” a vaga de outra pessoa em um estacionamento. Não costumo ver notícias do tipo vindas de países como a Suíça. Não vejo Suíços matando uns aos outros por uma batida de carro ou disputa por estacionamento.
A situação fica mais dramática ainda quando vamos observar os dados estatísticos, abaixo alguns dados retirados da revista “Veja”:
8,2% foi a queda no número de mortes provocadas por armas de fogo no primeiro ano de campanha de desarmamento no país, segundo o Ministério da Saúde. Foi a primeira redução no índice em 13 anos de pesquisas.
72% das armas usadas em crimes entre 1999 e 2005 no Rio de Janeiro pertenciam a cidadãos de bem e caíram nas mãos dos bandidos em assaltos e outros crimes, segundo pesquisa da Secretaria Estadual de Segurança Pública (fica a pergunta: armas de fogo servem para o “cidadão de bem” defender-se ou para armar mais ainda os bandidos?).
21,72 óbitos em cada grupo de 100.000 habitantes é a taxa de mortalidade por arma de fogo no país, conforme estudo da Unesco. Essa taxa triplicou num período de vinte anos no país (ou seja, quanto mais armada a população mais morte por armas de fogo…. aplicando-se a lógica inversa, será que daria certo? Quanto menos armas menos mortes? Ou seria puro delírio?)
2ª é a posição do país no ranking de mortes por armas de fogo, perdendo só para a Venezuela (30,34 a cada 100.000). O Japão foi o país com melhor índice – apenas 0,06, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) (mesmo com poucas armas – bem menos que Canadá, Suíça, Japão, etc. – temos muito mais mortes, fica então a pergunta: o brasileiro está preparado emocionalmente para o porte de armas de fogo? Não adianta comparar países, temos também que medir a capacidade emocional de um povo para o porte de armas).
Após a leitura dos dados estatísticos das armas de fogo no Brasil só posso repetir o sarcasmo de um amigo: Sugestão de adesivo para carro: “Bandido bom é bandido morto” / “Sim ao porte de arma” / “Faca nos dentes” / “Campeão de tiro em movimento”.
Arma de fogo é coisa para policiais e militares (e olhe lá), não para valentões de plantão. O loby favorável ao porte de armas é bem mais fruto da indústria da guerra para expandir seu mercado de sangue do que propriamente a necessidade de segurança. Enfim, é isso..