Como já é quase certo que o PT do Rio Grande do Norte marchará com a candidatura do Vice-Governador, Iberê Ferreira de Sousa (PSB), ao Governo do Estado, resta ao partido dar um melhor contorno à engenharia política da sua chapa para o Senado. Uma candidatura já está definida, aquela da governadora Vilma de Faria. Mas, como em outubro próximo o eleitor votará em dois candidatos ao Senado, o PT deseja que o segundo nome na chapa situacionista seja seu. E, para sermos sinceros, isso é o mínimo que se espera de um partido com a sua trajetória no estado. Mas não se trata de uma equação fácil. O jogo de forças no interior do partido não é coisa para principiante, e nem para sonhadores, herdeiros dos ideais do PT do início da década de 1980. A disputa pela vaga deve revelar “os piores instintos” dos concorrentes e seus promotores…
E essa briga de foice no escuro não é gratuita. Uma candidatura do PT ao senado não é nada desprezível. O postulante do partido, só para se ter uma idéia, terá o dobro do tempo de TV de Vilma de Faria. Serão quase oito minutos semanais. Se não me engano, nem Garibaldi (PMDB) e nem José Agripino (DEM) disporão desse latifúndio televisivo. Trata-se, portanto, no mínimo, de uma vitrine qualificada, que pode impulsionar positivamente uma carreira política. E mais: com a disputa renhida entre as três principais candidaturas – Garibaldi, Agripino e Vilma -, o candidato do PT pode vir a se beneficiar de uma parcela considerável do “segundo voto” de muitos eleitores identificados primariamente com alguma das outras candidaturas. Caso isso venha a ocorrer, o que inicialmente objetivava ser apenas uma vitrine transformar-se-á em uma bela surpresa.
Diante desse quadro, como o PT local está reagindo? Como sói ocorrer com freqüência na sua história recente, com visão paroquial. As duas pré-candidaturas lançadas não parecem dotadas das condições necessárias para uma ocupação competente do espaço acima mencionado. Hugo Manso e Fernando Lucena, são, sejamos francos!, dois candidatos a vereador. Vão para a disputa para o Senado pensando de olho em outra coisa (bem menor!). Querem acumular forças para os seus projetos, mais do que legítimos, de voltar à Câmara Municipal de Natal… Prá eles, tudo bem; para o PT, um deslizar na maionese.
Falemos francamente: as duas pré-candidaturas lançadas até agora somam quase nada ao projeto de consolidação do partido no Estado. São paroquiais! Dialogam com demandas corporativas e expressam discursos políticos limitados, anacrônicos e que não potencializam o alargamento da base social do PT no RN. Hugo Manso é até um pouco melhor, tem uma boa retórica, mas, dificilmente, conseguirá fazer pontes substantivas com a nova configuração social do Rio Grande do Norte. E já é um nome batido, tantas vezes foi candidato… Não é novidade em nenhum sentido. Fernando Lucena está mais distante ainda do perfil ideal para representar uma aposta séria para o senado. Com uma trajetória política assentada no corporativismo, e mais conhecido por suas bravatas anti-políticas, autoritárias e grosseiras (“vassourada na cambada!” foi um dos seus motes em uma disputa eleitoral…), Lucena tem no ressentimento anti-intelectualista e anti-cultura o eixo de sua, como direi?, produção discursiva. A seu favor, sejamos justos, tem a capacidade de dialogar com o lumpesinato. Mas isso é muito pouco para um partido que queira produzir um diferencial positivo na política estadual. Ademais, lumpesinato é lumpesinato. Desde que Karl Marx escreveu uma seminal análise de conjuntura a respeito de um golpe de estado perpetrado por um certo Luís Bonaparte na França de meados do século XIX, ninguém, em sã consciência, acha que é possível construir um projeto político republicano e democrático tendo esse setor da sociedade como base de sustentação…
Caso tenha objetivos maiores, como reforçar a candidatura presidencial de Dilma Roussef e, ao mesmo tempo, construir as bases para uma performance qualitativamente superior em 2012, o PT do RN deveria lançar uma candidatura ao senado que expressasse mais do que a busca de um mandato de… vereador em Natal. Que critérios levar em conta na escolha desse nome? Eis alguns elementos:
a) um nome que tenha condições intelectuais e éticas de sustentar um debate qualificado com as outras candidaturas;
b) esse nome deve ter expressão em algum setor da sociedade, que sirva de referência e alavanca positiva para as informações sobre a candidatura;
c) um(a) candidato(a) que ao propor o diálogo construtivo com a classe média o faça a partir de posições seguras, alicerçadas em uma prática anterior facilmente identificável, e não de uma forma retórica, frágil e oportunista;
e) um(a) candidato(a) que, pela novidade, impacte positivamente a envelhecida e triste disputa para o senado no Rio Grande do Norte;
f) um(a) candidato(a) com formação intelectual e dotado de conhecimento técnico de alguma área da gestão pública ou da vida econômica do RN;
f) um(a) candidato(a) que, pelo seu perfil, tenha um trânsito razoável entre os grupos internos do partido, mas cuja candidatura não seja imediatamente associada como tendo o objetivo de ajudar “A” ou “B”.
Existe esse nome? Claro que existe! O problema é que, envolvidos na disputa internista e buscando garantir os seus interesses imediatos (ou, o que é mais comum, que os adversários não avancem um milímetro), os petistas têm dificuldade de enxergá-lo(a). Posso citar até quatro nomes… Mas, por enquanto, fiquemos com dois. Então, vamos lá!
O primeiro nome que se enquadra no figurino acima desenhado é o da ex-Secretária de Planejamento de Natal, a economista Vírginia Ferreira. Tem história, trajetória administrativa, competência técnica, visão política e capacidade de se sair bem no debate público. A sua entrada em cena teria um impacto positivo para o partido, e para o ambiente político do estado.
O segundo nome é o do Professor Hanna Safieh. Tem vínculos históricos com o PT, possui competência técnica, e demonstra capacidade de intervir propositivamente no debate público do estado. E, melhor de tudo, o Professor Hanna encarna uma visão que, à falta de outra denominação, poderíamos identificar como sendo a de um nacional-desenvolvimentismo sustentável e internacionalmente articulado. Além disso, o Professor Hanna teria condições de dialogar positivamente com setores empresariais locais.
Bom. A disputa para o Senado é como uma corrida automobilística em uma pista longa e asfaltada. As candidaturas postas estão montadas em Ferraris e BMWs. O PT do RN não tem condições de se aboletar em carrão desses, mas poderia montar em uma Parati ou, quem sabe!, em um Honda Civic. Até agora parece disposto a seguir de fusquinha… É esperar para ver o veículo que escolherá. Como diz a propaganda daquela revista: “você faz as suas escolhas; suas escolhas fazem você”. Ou, sendo menos rastaqüera, e citando Hegel: “naquilo com que um ser se contenta, mede-se a dimensão de sua perda…”
[Texto publicado originalmente no Blog do Edimilson Lopesl, em 20 de fevereiro de 2010]