Bem, sou um crítico dos direitos dos animais. Não que seja à favor que os machuquem, nem me passa isso pela cabeça. Apenas acho um pouco insensato querer garantir aos animais domésticos direitos que muitos humanos não possuem. Mas não estou aqui para criticar direitos garantidos (como geralmente faço). Voltei para casa após algum tempo viajando e ao entrar recebo a notícia de irmãos e mãe: “a gata” está internada (é a da foto e ela não tem nome, é só “gata” mesmo…).
Foi a primeira frase que disseram-me ao entrar em casa. Não disseram nem “oi”, muito menos “como foi a viagem?”. Tinham um assunto mais importante e urgente para tratar. Felpuda é uma gata que criamos, de tão apegada que é, ela mata passarinhos e nos trás enquanto ainda dormimos (gatos como animais de hábitos noturnos costumam caçar durante a madrugada, quando acordamos pela manhã está lá o nosso “presente”) e ao acordarmos ali está ela a dormir ao nosso lado com um “presente”. Ainda tentamos brigar com ela, explicando que se ela tem comida não precisa matar os passarinhos. Não tem jeito, continua a fazer. Ela diz não poder ir contra seus instintos. Compreendemos. Mas não é disso que queria falar. O que muito me surpreendeu ao retornar para casa e receber a notícia foi o impacto que isso realmente me causou. Não se trata de fingimento. Não seria exagero dizer que os olhos encheram d’água e senti-me culpado por não estar presente durante o tempo em que ela adoeceu e foi internada (ela está com pneumonia).Lembro-me de já ter lido alguma coisa sobre animais e entre elas está o fato de que ao conviver com eles aprendemos melhor a lhe dar com a dor e com a perda. Via de regra animais domésticos tem vida relativamente curta. Quando muito um cachorro vive 10 anos, gatos (via de regra) não passam dos 5 anos e por ai vai. Ok, tem uns por ai que inventam de criar papagaio, que vive uns 80 anos, certo, ai fica difícil, mas a quantidade de pessoas que criam papagaios é bem pequena, então, fiquemos o exemplo dos cachorros e dos gatos.
Parece existir um impacto social muito grande na criação de animais. Quando nossos queridos mascotes ferem-se ou morrem, sentimos realmente a dor de perder “um ser vivo querido”. Perder um gato ou um cachorro não é como ter um celular ou mesmo um carro roubado. O sentimento não é de prejuízo, é realmente de perda… aquele mesmo vazio quando alguém nos abandona. Assim sendo, parece-me que animais auxiliam no desenvolvimento de capacidades cognitivas para aprender a lhe dar melhor com a perda de entes queridos. Nesta perspectiva não seria exagero dizer que criar animais domésticos faz parte do tornar-se humano. Animais nos fazem humanos melhores. Não tenho dúvidas. Assim sendo, logo desconfio de pessoas que não gostam de animais. O que só reforça meu preconceito contra bruxa da minha vizinha que vive reclamando dos gatos e cachorros da vizinhança. Realmente soubesse o bem que trazem para os que deles cuidam, não reclamaria tanto de alguns pequenos instantes de barulho. Enfim, é isso…